A luta antimanicomial é um movimento que não pode parar, visto que existem pessoas que negam a existência das barbaridades que ocorreram nos manicômios, como por exemplo no Hospital Colônia, história essa que foi documentada pela jornalista Daniela Arbex. Nosso país assim como outros possuem uma divida histórica com as pessoas com sofrimento mental, dado as inúmeras violações de direitos humanos.

Em 2022 a lei nº 10.216 completa 22 anos, também conhecida como lei da reforma psiquiátrica ou lei Paulo Delgado. A promulgação desta lei em 2001 se estabeleceu como um importante marco histórico no processo de luta antimanicomial no Brasil, estabelecendo novas diretrizes para as políticas de saúde mental, orientadas pelo respeito a respeito aos direitos das pessoas com transtornos mentais, bem como seu empoderamento e protagonismo.

Esta lei redireciona o modelo assistencial em saúde mental, no qual exclui como única via de “tratamento” a internação hospitalar, característica principal do modelo asilar. Assim a lei previa a extinção progressiva dos manicômios no país e em seu lugar ao longo dos anos seriam implantados serviços substitutivos, no qual o cuidado passaria a correr em liberdade e com participação da sociedade.

Ao tratar de luta antimanicomial não podemos deixar de lado como esse processo ocorreu e ocorre no Piauí, sendo este um dos estados que mais tardiamente implantou os dispositivos substitutivos aos manicômios, quando comparados aos outros estados.

A reforma psiquiátrica no Piauí pode ser dividida em dois grandes momentos: antes e depois de 2001. Antes de 2001 se caracterizou como “Movimento de Reforma da Assistência Psiquiátrica” iniciado em meados de 1940 e perdurou até a promulgação da lei n°10.216. Nesse período o principal objetivo foi o aperfeiçoamento da estrutura asilar do Estado, centrada nos dois hospitais psiquiátricos da capital e consequentemente fortalecimento da cultura manicomial local.
O segundo momento iniciou com o surgimento dos movimentos antimanicomiais no Estado. O que dificultou a ampliação da rede asilar, disseminando estes por outros municípios, porém com o movimento ainda tímido, não impediu que cultura asilar se fortalecesse na capital Teresina.

Os primeira ações reformistas surgiram dentro do próprio hospital psiquiátrico, não no sentido de transformá-lo, mas sim de fortalecê-lo. Em 2002 o primeiro CAPS ad foi instalado dentro do hospital Areolino de Abreu assim como o CAPI i, mostrando assim a dificuldade de vencer a cultura existente.

Em 2004 surgem os primeiros CAPS no estado que funcionavam em consonância a lei n° 10. 216 atuando como serviços substitutivos aos manicômios. A partir dessa iniciativa, psicólogos começaram a ganhar uma maior espaço de prática em saúde mental, que inicialmente era prioritário do saber médico-psiquiátrico.

o movimento tardio do nosso estado impacta ainda nos dias de hoje na forme em como a saúde mental é vista e compreendida, cercada de estigmas e preconceitos que distanciam as pessoas da busca por assistência e cuidado.